Concurso UBS
Ficha Técnica
Local: Conde - Paraíba
Área: 400 m²
Projeto: 2019
Obra: -
Autores: Arthur Oishi ; Pedro Prado; Raphael Takano.
CONCURSO UBS QUILOMBOLA DO GURUGI
Para concepção da proposta, buscamos refletir sobre qual a relevância da arquitetura para as comunidades tradicionais.Com o intuito de entender a arquitetura, em suas diversas dimensões, como uma manifestação cultural, algo que não se restringe apenas a edificação e seus aspectos funcionais, mas que carrega diversos signos e símbolos em sua materialização assim revelando um modo de vida e de pensar de uma determinada cultura.Talvez durante muito tempo a arquitetura vernácula (referente às comunidades tradicionais) e a arquitetura tradicional africana tenham sido pouco estudada nas academias, muito porque nessas comunidades o saber era transmitido de forma oral, sem a presença ou produção de manuais. Porém essa passagem de conhecimento vem se quebrando com a evasão da população jovem dessas comunidades para grandes centros e alguns conhecimentos e valores se perdendo no tempo.Este aspecto torna a arquitetura uma forma ainda mais presente de manifestação cultural e humana, pois através dela pode se compreender o processo histórico passado por aquela população e preservar para as próximas gerações aspectos culturais da sua própria comunidade.Para a concepção do partido para o concurso analisamos profundamente diversos aspectos da estruturação da arquitetura africana e posteriormente sua adaptação a realidade encontrada no Brasil.
Identificamos dentro da figura do Kraal, umas das maiores relações de identidade e organização da cultura africana, conjunto de unidades mono funcionais autônomas – cubatas – agrupadas entorno de um espaço comum delimitadas ora por proximidade ora por um cerca, conformavam um assentamento familiar e seu conjunto determinava uma aldeia (quilombo) A inspiração nesse tipo assentamento resultou na espacialização do programa da UBS, foram conformados 4 blocos que abrigam as funções da unidade, atendimento médico, odontológico, centro de imunização e espaço comunitário. Esses blocos são dispostos ao redor de um espaço aberto central, que não procura a releitura de um pátio Paladiano com seu rígido aspecto formal, mas busca ressaltar a conexão histórico-cultural do espaço ao ar livre que permeava as cubatas e também as articulava, tornando um dos pontos centrais do projeto, como fica explicitado nessa citação:
“Em alguns aspectos, no entanto, os africanos conseguiram manter os seus costumes que só ao longo dos séculos acabaram por encolher em seu significado. Referimonos especialmente, às atividades ao ar livre. Os viajantes do início do século XIX se deliciavam em representar as múltiplas atividades exercidas pelos negros nas ruas e nas praças de nossas cidades. Para eles, isso não passava de exotismos de um país tropical: certamente tinham dificuldade em entender que isso era um modo de vida africano que estava continuando a se perpetuar no país. “ (WEIMER, 2018)
Sendo assim toda a distribuição de fluxo do projeto é feita ao redor deste ponto focal. Foram definidos dois fluxos principais um transversal ao terreno e outro longitudinal conectando as áreas de horta e integrando elas ao espaço central da UBS. O bloco referente as atividades da comunidade foi posicionado junto a fachada, sendo propositalmente o único a possuir uma materialidade e geometria diferente do restante do conjunto. Afim de simbolizar que esta UBS possui um caráter especial e busca uma relação simbiótica com os quilombolas. Sua forma surge através do conceito de procurar internalizar os fluxos que vem da rua para dentro do conjunto, integrando o espaço comunitário da horta, cidade e UBS. Já a materialidade procura trazer uma leveza e transparência destacando-o principalmente durante a noite com a presença da luz. Foi também projetado um grande alpendre acolhendo o visitante, inspirado nos primeiros relatos de utilização desses elementos nas sanzalas bantas. A estética africana é outro aspecto que incorporamos no projeto, a fachada principal e composta por dois sólidos, de materialidades distintas, com uma abertura central, estabelecendo uma releitura da composição de cheios e vazios estabelecidas pelos cercados externos do Kraal e demarcando a entrada e acesso de forma clara.
O volume da esquerda e composto por uma serie de elementos verticais que ritmam a fachada remetendo aos troncos fincados no chão que delimitavam a extensão do Kraal já o da direita é um solido repousado direto sobre o solo dialogando com a estética das antigas cubatas.A cobertura elevada proposta remete através de um de desenho contemporâneo, a solução de ventilação utilizada nas cubatas tradicionais, nas quais as coberturas apresentavam aberturas na intersecção com as paredes externas permitindo uma relação de cheios e vazio, aonde a figura do solido predominava.